Edu
Só quem lida diretamente com o público, faz atendimentos de qualquer tipo, sabe os prazeres e as enormes dores de cabeça que se tem com esse tipo de trabalho.

Para quem não sabe, sou sócio de uma pizzaria em Santos/SP, a Pizzaria do Porto (tá lá embaixo). Eu, Tatiana e os nossos "meninos", temos a árdua tarefa de transformar a visita de nossos clientes em um prazer, ou numa experiência que transcorra, no mínimo, sem sobressaltos de qualquer natureza.

Nem sempre é assim, rss. Temos um terceiro sócio, Mr. Murphy. E por mais que queiramos que o infeliz fique em casa, ele insiste em vir trabalhar diariamente conosco.

Existem algumas leis infalíveis, ditadas por esse senhor, nosso sócio, que vou citar:

  • O cliente sempre vai sentar à mesa que acabou de ficar vaga, ou seja, ainda não foi limpa, ainda há restos insólitos da refeição feita pelo cliente anterior. Talvez essa seja a lei número 1 de nossa casa. Tudo bem, normalmente as pessoas escolhem a mesa que mais lhe convém, que por estar mais bem localizada, tem sempre frequência maior. Mas aí começam as caras feias. A mesa tem que ser limpa em segundos, antes da cara feia começar. Com os braços do cliente apoiados nas toalhas que não poderão ser trocadas naquele momento. E é lógico, aquele caroço de azeitona que se "ESCONDEU" entre o paliteiro e o saleiro, vai causar frisson.
  • Por algum motivo ainda desconhecido por nós, existe um calendário misterioso de ingredientes que são eleitos em determinados dias. Já estou pedindo aos amigos astrólogos que façam a revolução solar do Alho Poró e do Aliche. Preciso saber quais são seus melhores dias para não ser pêgo de surpresa. Qualquer restaurante que se preze, tem um prato "zebra". Aquele que não sai nem por decreto presidencial nem por epístola papal. MAS... existem os tais dias em que a posição planetária, as conjunções e trígonos, fazem com que essa zebra saia desesperadamente nos pedidos. Sabe aquela pizza de "caroço de jaca com queijo de cabra iraquiana", que nenhum ser vivo em sã consciência pediria ? Pois é. Existe sempre o dia em que se fazem 10 pizzas desse sabor. E sempre, no dia em que eu penso: - pra que vou comprar jaca ? Já tem 9 caroços aqui... Acho que dá... ninguém come esse troço... Comem. Definitivamente.
  • A música e as suas consequências. A gente faz um esforço sobrenatural pra fazer uma seleção que agrade gregos e baianos. Mas nunca será boa. Às sextas feiras, temos um trio de jazz que toca gratuitamente. Música de excelente qualidade. Esse foi o mais inusitado... Um cliente pediu que baixássemos o som, que estava muito alto. Sendo que nenhum dos instrumentos estava plugado a amplificadores. Enfim.
  • Cerveja quente, já é hors-concours... Pode estar tilintando de gelada, ameaçando congelar. Mas para alguns estará quente quando o inferno.

Muito bem. Acho que já enumerei uma quantidade razoável de reclamações. Vamos a parte boa da coisa.

  • Nada como ter clientes frequentes. Aqueles habituais, que sempre vem nos visitar, experimentam tudo de novo que a gente se arrisca a fazer. Sabe aquela combinação estranha que só a sua mãe (a minha, não...) experimentaria ? Nossos habitués também experimentam ! e são generosos com nossa ousadia. Sempre incentivam nossas maluquices. (vai aqui um agradecimento à Terry Hall, também conhecida como Tereza Pacca e a Carla Canepa, que um dia experimentaram um molho de café que ficou VERDE. Deus sabe porque...).
  • E são sempre esses, que conhecemos pelo nome, que já sabemos até qual o pedido que farão. Gente sorridente, que conversa, que dá sugestões, que elogia e critica com a maior gentileza.
  • Os chatos frequentes são (quase) sempre uma diversão. Sempre vão pedir o sorvete de graviola que a gente nunca teve. Nunca. Sempre vão pedir aquela pizza que você não faz. Eles sabem... Mas qual seria a diversão de pedir tudo certinho ? A gente torce o nariz, diz: lá vem o cliente do sorvete de graviola. Mas no fundo, vira atração, uma figura que faz do nosso trabalho um desafio.

Os vexames impagáveis que cometemos, dariam um livro. Desde as famosas azeitonas voadoras, que sempre vão cair diretamente da fôrma de pizza na cabeça dos clientes, à garrafa d'água que rola e molha a senhora estrangeira, que com sua simpatia me diz: Sorte, meu rapaz, que está um calor insuportável. Senão você teria ganhado uma inimiga. E o memorável escorregão que tomei certa vez. No meio do salão, com 6 pratos na mão. Meu poder "jedi" (gargalhadas) me fez cair, levantar sem quebrar nenhum prato e desaparecer do meio do salão em apenas 10 segundos. E me rendeu um roxo de 1 palmo de comprimento na perna. A única testemunha desse tombaço, até hoje não acredita no malabarismo que fiz.

Por tudo isso, e por eu andar meio saudosista e não muito católico com reclamações em geral, contratei uma pessoa para fazer o nosso Atendimento ao Cliente... Pateta, meu PEZ (alguém lembra disso ???) Está aqui, em cima do balcão, para receber comentários, reclamações e xingamentos. Se você for boa gente e vier nos elogiar, ele te dará uma balinha no final do atendimento. rsss

Edu

=]

4 Responses
  1. Paulo C. Says:

    Meu amigo...
    HAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!! Pizza de "caroço de jaca com queijo de cabra iraquiana" é o máximo. Adorei sua "Crônica do Pizzaiolo Histericamente Enlouquecido".
    Agora sério... estou a não mais do que cinqüenta minutos da sua pizzaria. Vou ter que ir aí e vou pedir uma "meia lingua de rouxinol, meia lingüiça de calango". Vai providenciando o trigo da massa, porque tenho certeza que os ingredientes da cobertura você já tem... hehehehehe...
    Ah! se não fosse o bom humor...
    Valeu, Edu! Você me fez rir muito em dia em que acordei cinzento como o próprio dia está.


  2. Andréa Says:

    Ai que delícia de pizzaria, Edu. Vai ser minha primeiríssima parada na próxima visita, tenha certeza. E ainda trarei o Paulo junto, pra experimentarmos a lingua de rouxinol, a cerveja quente e o sorvete de graviola. Beijos saudosos e famintos por pizza... em você e na Tati.


  3. Anonymous Says:

    Tem momentos em que a gente acha que nada vai fazer vc rir até chorar e, aí, surge um amigo com uma crônica que descreve tua vida, teus momentos de maior "mico" e de maiores delicias...gargalhei como há tempos não fazia e, o que é melhor, de "nós" mesmos...viva a vida e seus entreveros; viva às pessoas tão diferentes entre si e tão iguais entre todas...
    Viva nós, viva tudo, viva o chico Barrigudo!!!!
    te amo Edu!!!


  4. Anonymous Says:

    não sei porque saiu anônimo...kkkk...mais uma do nosso sócio Murphy...kkkkkkkkkk...fui eu quem escrevi o comentario anterior...kkkkkkkkkkk e não o anônimo, sei lá quem é esse....kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk