Edu
Pra quem não sabe, eu e Tatiana (que também posta por estas bandas). temos uma pizzaria. A convivência entre garçons, atendentes e nós mesmos com clientes, não é uma das coisas mais simples do mundo.

Estava passeando pelos meus bloggs preferidos, quando achei esse texto no blogg da Rosana Hermann e achei, além de engraçadíssimo, uma descrição quase que precisa dessa relação "tão delicada"... Segue o texto:


Garçon, você sabe, é 'garoto' em francês. Claro, a palavra já foi totalmente absorvida pelo Brasil, ninguém nem lembra sua origem quanto mais seu significado. Mas tem dias que você chama o garçon e parece que está mesmo falando outra língua, porque ele simplesmente, não atende seu pedido.

Em geral, os garçons são muito gente boa. Pacientes, tolerantes, prontos para agüentar até o freguês mais chato, mais bêbado, mais corno, ou uma mistura de todos os três. Tanto é que os garçons são famosos por sua capacidade de ouvir lamentações de clientes solitários assumindo, muitas vezes, o papel do terapeuta. Com a vantagem de cobrar só 10% da consulta.

Tem garçon de bar, de botequim, de restaurante fino, restaurante grosso, de pizzaria, de churrascaria, de rodízio, de restaurante japonês, entre outros. Tem garçon prestativo, trabalhador, puxa-saco. Mas uma coisa é certa: sempre em qualquer restaurante, haverá pelo menos um garçon de mau humor, aquele que briga com o cliente e nunca acerta o pedido: é o garçon mal-humorado.

O garçon mal-humorado só chega até sua mesa depois que o cliente faz todos os exercícios de torcicolo em busca de um olhar até sua mesa, esgotando o repertório de chamamentos, passando do óbvio 'ei, garçon!' até o, 'amigo!', 'psiu', 'hey!!', 'pode ser?', 'por gentileza' e até termos desesperados como 'meu querido'.

Por pior que seja o humor, uma hora o garçon é obrigado a vir até você, mesmo se arrastando, mesmo de bico, mesmo com aquele balãozinho sobre a cabeça cheio de figuras e símbolos horríveis sobre você.

Ele chega e com ares de guarda de trânsito, tira a bic de trás da orelha ou do bolso, seu bloquinho de anotações e voilà, está pronto para multar você por ter sido tão burro de ir até aquele restaurante. É hora do pedido.

Nas grandes rodas de amigos e familiares, a hora do pedido é uma hecatombe nuclear sem fim. Ninguém sabe o que quer, todo mundo fala ao mesmo tempo, alguém quer ir ao banheiro bem naquele momento. O garçon, então, organiza a zona avisando que ele só está ali pra tirar as bebidas enquanto todo mundo escolhe o prato à la carte.

Aqui, cabe um parágrafo especial: em todo restaurante a bebida é pedida primeiro para chegar primeiro, antes da comida. Assim você vai tomando tudo até que acabe, no tempo exato para receber seu prato e já estar com sede. É um fato da vida, nunca sobre aquele gole dágua que você tanto precisa quando a comida apimentada acaba.

Os pedidos de bebidas sempre causam tumulto. A avó quer tomar cerejinha, xodó da Bahia, leite com groselha ou qualquer outra coisa que não existe por decreto lei federal desde 1934. As crianças perguntam se tem suco de pitomba, a titia faz questão de pedir uma tubaína diet com gelo e mexerica, mas com o detalhe da mexerica ser em rodela e o gelo vir separado no copo. Alto. O adolescente vai pedindo e cancelando, pedindo e cancelando até que o garçon perca totalmente a noção se ele quer guará-cola soda-fanta light-lemon com-sem gelo e lima-limão ou suco natural de milkshake de choco-late e não morde. Na dúvida ele traz uma água.

Depois que as bebidas chegam todas trocadas e todo mundo já reclamou que o gelo era fora e não dentro, que o limão era espremido e não em rodela e que o refrigerante era diet e veio normal, chega a hora da guerra do menu.

O menu é concebido especialmente para que você não entenda nada assim, você pode pedir o que não sabe, comer o que não gosta e pagar com o que não tem. É uma ciência.

Para tirar as dúvidas de todo mundo, o garçon é interrogado como se estivesse na inquisição espanhola. Depois de dar explicações, sugestões e explicar que não é possível trocar o arroz pela carne, a salada pela sopa, a farofa pela sobremesa, acontece aquilo mesmo: o freguês aponta a mesa ao lado e diz que quer um prato igual aquele do vizinho.

Depois de três horas de espera, muito xixi no banheiro, muito jogo de palitinho, muitas ligações inúteis no celular só pra matar o tempo, muito desenho de bic na toalha de papel, muito origami no guardanapo, a comida chega. Momento de glória. E derrota.

Um reclama que a carne mal passada veio passada demais, outro diz que o purê está com uma textura estranha, outro acha que tem sal de mais ou sal de menos. Enfim, em algum momento, as pessoas calam a boca, param de reclamar e comem.

Quando o garçon é chamado para a segunda rodada de bebidas e o pedido de sobremesa, o saco do rapaz já está no fim. E o do cliente também. Mesmo assim, partimos para o último round de doces, onde a relação já foi discutida e ainda que silenciosamente, todos já sabem se vai ou não vai ter os 10%.

A hora da conta é um martírio exclusivo do chefe da família. É ele que faz o acerto de contas com o garçon, discutindo item por item até descobrir porque deu tudo aquilo de total. A culpa, é sempre do couvert. O couvert é uma versão melhorada de pão com resto, calculada cientificamente para extorquir o cliente dentro da conformidade da lei. Não tem jeito, comeu, tem que pagar. Se fosse gente seria pior, ainda tinha que levar pra casa ou botar no táxi.

Quando tudo termina, a mulherada pega um batalhão de bolsas, os homens catam carteiras e chaves e todos vão arrotando e dizendo que comeram demais em direção ao manobrista, enquanto o garçon traz o troco ou o cartão e recolhe o julgamento final da sua pena, traduzido em moedinhas.

Neste momento, alguém pergunta 'cadê o papelzinho do estacionamento?'.E aí, começa mais uma batalha. Que não tem nada a ver com o coitado do garçon. Nem com essa história. E aí, fica pra uma outra vez.

Próximo capítulo, a guerra dos manobristas! Um beijo, um browse, um aperto de mouse,da

Rosana Hermann


Aproveitando o ensejo: Nós da Pizzaria do Porto, não cobramos couvert, ok ? rss Aparece lá. Rua XV de Novembro, 112. Em Santos, no centro histórico.

Ah! e nas sextas feiras, tem música ao vivo, com o Almanaque Jazz Trio. De graça, sem couvert também. =]

Edu =]

PS.: Rosana Hermann me autorizou o "copy & paste" desse texto. Gente fina ! =]


4 Responses
  1. Anonymous Says:

    Caramba!!!Parabéns à Rosana que descreveu tão bem essa relação...rsrsrsrsrsrs...muito bom.


  2. Paulo C. Says:

    Olá, Edu...
    Obrigado pela visita e seja muito bem-vindo à confraria de loucos ensandecidos que se prestam a este exercício da blogagem. Os normais que não o fazem, não sabem o que estão perdendo. Se sou muito louco, mais louco é quem me diz... e não é feliz..., como diz a música.
    Você também está linkado lá "em casa"... e vamos aumentando o pátio do manicômio. Abração!!!


  3. Anonymous Says:

    Nooosssaaaa!... A Rosana tem sempre textos ótimos....e realisticos... Realmente já vi vários garçons querendo matar na hora dos pedidos ou ainda quando vem os pratos...extamente como no texto..... Mas.....
    Na Pizzaria do Porto (sem rasgação de seda) sempre fui muito bem atendido, sem caras feias, demora, nem erros.... Parabéns Edu e Tati por NÃO serem "parte integrante" do texto... Abraços.... Marketing puro e simples....
    Daniel Agapito


  4. Edu Says:

    Para um casal tão simpático, a gente nem precisa fazer esforço...

    E para um grande amigo, a gente abre até o tapete vermelho.

    Abraços

    Edu

    =]